terça-feira, junho 14, 2005

Parada do "orgulho"

Sei que passou da época, mas azar, eu quero falar disso e pronto:
Eu acho isso de Parada do Orgulho GLBT uma grande bobagem.
Eu não entendo e não concordo e ninguém vai me convencer de que alguém deva se orgulhar de ser gay, assim como não acho que alguém deva ser orgulhar de ser hétero, de ser bi, de ser tri, de ser pan; de ser branco, negro, amarelo ou pintar o cabelo de verde. Saca?
Eu já fui a umas duas ou três paradas gueis. E eu já me diverti horrores, dancei e pulei atrás do carrinho com amigos, acenei pras pessoas do lado de fora e já dei muita risada em show de drag.
Mas tá, deu, eu não acho que dançar com as bibas, desfilar com a namorada e chegar no final do percurso achando que algo de importante aconteceu seja algo realista. Porque não é. Não acontece. NÃO ACONTECE, esse é o problema.
Acontece uma celebração, a cada ano mais decadente e partidarista, de algo que não tem repercussão - social e politicamente. Não se propaga, não se perpetua, não tem consequências no dia seguinte pra quem saiu de casa, pediu pra ser visto e respeitado e que amanhã vai voltar a ser chamado de veado e sapatão na rua. Igualzinho a todos os outros dias. Antes ou depois de qualquer parada.
Eu acho que as paradas livres viraram uma caricatura de algo que poderia ser muito do caralho, mas NÃO É. Virou data institucionalizada de sair do armário e desfilar alegoria, tal e qual carnaval. Idêntico.
Eu não sou socióloga, não tenho pretensões políticas e não faço parte de ONG. Sim, eu não faço nada pra mudar o mundo e sei que não tenho nada que ficar reclamando de quem faz, mas eu sou chata e eu reclamo sim. Porque eu acho que reeducar uma sociedade pra entender e aceitar a tal diversidade começa em fazer entender que todo mundo é igual, sem alegoria. Que nem todo homem gay sonha em ser mulher, conta piada e sabe andar de salto alto. E que nem toda lésbica coça o saco, dirige caminhão e bebe cerveja no boteco. Que são pessoas como qualquer outra, e não saem de casa só em dia de Parada Livre. Que não têm (ou não deveriam ter) que se orgulhar de serem gays, nem levantar bandeira pra serem respeitados. Porque ser gay, na minha doce ilusão, deveria ser igual a ser vegetariano ou ter olho claro ou escuro, características que diferenciam uma pessoa da outra e só, sem viagem, sem neurose, sem gente besta achando bizarro. E que todo mundo deveria ter, no mínimo, a possibilidade de viver tranqüilo, feliz, sem precisar se esconder em guetos pra existir. Sem carnaval. Sem fantasia. Vida real, que é onde a gente vive, onde qualquer pessoa deveria ser respeitada, simples assim. Seja ela homem ou mulher, gay ou hétero. Ou seja ela o Marilyn Manson.