sexta-feira, setembro 02, 2005

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É engraçado mexer nas minhas próprias coisas e me descobrir lendo coisas e achando bonito, ou achando absurdamente melodramático, ou me surpreendendo com o quanto eu consigo ser pretensiosa quando escrevo. Mas o fato é que me procurar em meio aos escritos é a forma mais eficiente de não me assustar nas vezes em que me olho no espelho, e estranho minhas olheiras - a cada dia mais fundas - meus olhos - a cada dia mais escuros e evasivos - e minhas mãos - a cada dia mais escorregadias.
E o fato é também que sou assim pedante, e pedante que sou gosto de textos longos, incoerentes, cansativos e intermináveis. Gosto de ler folhas e folhas de rascunhos à máquina e então perceber que todas as minhas tentativas de escrita são nada mais que catarse, uma busca infinita de mergulhar em toda a violência de sentimentos que me habita, de expulsar a dor e o desencanto e de me sentir, ao final de tudo, exaurida, nova, purificada.
E aconteceu que dia desses eu estava com a sensação iminente de alguma catástrofe, um aperto tão grande por dentro do coração que a sensação era quase de morte. Ou explosão. Aí eu ouvi Radiohead, escrevi chorei escrevi chorei escrevi chorei até conseguir voltar a respirar. Depois que passa eu percebo o quanto sou dada a rituais. Porque é sempre assim, sempre bem assim. E a música tem que estar no repeat senão não funciona, porque a música não é trilha sonora, a música é mantra e tudo isso faz parte da catarse. Aí, no final do terceiro ato, eu coloco a mão no coração suspiro bem lentamente e começo a rir sozinha. A rir não, a gargalhar de qualquer mínima coisa que aconteça. Aí tudo passa e a vida recomeça. E a quem quiser saber o nome do mal e a cura, eu digo, é assim:
Realismo fantástico.
E apoteose.
(A parte do mar invadindo a casa em cima do morro e o céu arrebentando em raios eu não falo. O que contam pra gente em sonho a gente não revela pra ninguém.)