terça-feira, setembro 20, 2005

feriado

Acordei às oito da manhã com um cara da embratel aos berros dizendo "booooooooom diiiiiia" e anunciando uma superdivertidaeanimadaeótimapromoção. E eu quando desliguei o telefone pensei em avisá-lo que aqui hoje é feriado e que se ele continuasse a acordar pessoas às oito da manhã no feriado coisa boa ele não devia esperar. Mas eu pensei tarde demais e tarde demais é tarde demais.
Mas então,
a manhã começa a acontecer de fato agora, às 10 e um pouquinho. Choveu dias inteiros, sem descanso, choveu na rua, choveu em mim, choveu em todos os cantos da minha casa, da minha vida, do meu coração. Choveu tanto que os guarda-chuvas já se haviam incorporado ao cotidiano das ruas e as pessoas já desfilavam os seus numa coreografia ensaiada pelo hábito.
Mas hoje, hoje tem um lento abrir de sol e as árvores levemente douradas, refestaladas por tanta orgia de águas. É como se alguém tivesse dado corda num relógio, e a vida aos poucos recomeçasse, de outra forma, depois de um período de suspensão em que se vive, se anda, se fala, se ama, mas de uma forma autômata, aquela única que não nos deixa sucumbir pela dor.
E recomeço aos poucos, e é tão longo meu processo e tão inumeráveis as razões que ninguém que me olhe possa jamais dizer quantas rebeliões enfurecidas andam acontecendo em mim; de cada rosto irreconhecível que eu encontro ao espelho todos os dias de manhã; dos sonhos coração disparado; de todo o resto, de todo o resto, de tudo o mais, de tudo que é, de tudo que permanece, de tudo que se vai, de tudo que nunca chegou a ser de fato.
Mas ainda é cedo para saber.