terça-feira, março 01, 2005

era uma vez

Teve uma vez, eu escrevia contos.

[Eu tentava escrever contos.
E quase quase conseguia.]

E um dia estava na faculdade, num intervalo interminável entre uma aula e outra, e escrevi uma história, sobre uma menina de tranças, sua bolsa, suas tardes e um chafariz.
E a história terminava assim: num pôr-de-sol na cataluña, a cidade em festa e todos sorrindo muito em volta do chafariz - aquele que ela considerava só seu e de mais ninguém. Ela caminhava bem lentamente em direção a ele - que jorrava águas coloridas e estava lindo como nunca - e a menina então bebia toda a água do chafariz e explodia no ar.

[Uma vez me contaram das águas de um chafariz que dançam ao som de música clássica.
Eu nunca esqueci.)

E agora eu estava lembrando daquela tarde, e do caderno, e de mim, e da felicidade que se me tomou inteira quando a explodi em milhões de pedaços coloridos no ar, e do quanto achei tão simples explodir no ar. De felicidade. De esperança. De tristeza. De amor.
Simples como morrer de susto.
E me deu saudade.
Dela.
De mim.
D'ela, que na verdade,
sempre fui eu.
Da menina de tranças que eu (me) inventei.
E que fiz inventar uma infância - e uma vida inteira - para si.
Para ela.
Para mim.