sábado, julho 09, 2005

A impressão de que se conseguisse manter-se na sensação por mais uns instantes teria uma revelação - facilmente, como enxergar o resto do mundo apenas inclinando-se da terra para o espaço. Eternidade não era só o tempo, mas algo como a certeza enraizadamente profunda de não poder contê-lo no corpo por causa da morte; a impossibilidade de ultrapassar a eternidade era eternidade; e também era eterno um sentimento em pureza absoluta, quase abstrato.
Ganha uma tulipa - dessas sobre as quais a moça da foto está chovendo - quem descobrir quem escreveu isso.
Ganha uma tulipa - dessas sobre as quais a moça da foto está chovendo - quem descobrir qual a exata cor do dia de hoje. Qual a exata cor de um sábado como esse.
Ganha uma tulipa - dessas sobre as quais a moça da foto está chovendo - quem me contar qual a palavra mágica que faz um momento bonito suspender-se no ar, como borboleta.
Ganha uma tulipa - dessas sobre as quais a moça da foto está chovendo - quem conseguir me ensinar como se organizam as palavras e as vontades e os medos e as possibilidades e como se faz para não deixar que nada no mundo brinque de deus com uma pessoa que acha-que-tudo-é-grande-ou-pequeno-demais.
Ganha uma tulipa - dessas sobre as quais a moça da foto está chovendo- quem acreditar que eu conheço um beija-flor igual a uma vaquinha, e que dia desses ele entrou pela janela do quarto, passeou pela sala, saiu pela janela e sentou na folha da árvore, se matando de rir.