quarta-feira, fevereiro 14, 2007

de (quase) tudo aquilo que sim e não

Evito colocar minhas vísceras à mostra: elas adoecem ao contato com o ar. Algumas pessoas têm em si a potência acumulada de um oceano inteiro virgem, mas transbordarão? Uvas são para mim uma importante fonte de inspiração e a noite passada eu sonhei que entrava no mar e ele era de água doce (acordei com pretensões psicanalíticas, mas não vingou). Amo com vertigens na corrente sangüínea, mas acho que não aprendi a (me) perdoar. Será possível reinventar a luminosidade de um mesmo sol? Leio livros com ritmo de obsessão, arranco deles alguma potência, sorrio o só riso roubado de alguns girassóis. Invento tangos ao redor da chuva, e guarda-chuvas que não sobrevivem em dias de sol. Tento acalmar meus olhos ao dormir, e subsisto tão somente porque existe a possibilidade do ontem. Ultimamente tenho tropeçado e alguns soluços me arrancam do carnaval que nunca existiu, enquanto tento moldar meu corpo à forma daquelas mesmas flores invisíveis, mas há inegável serenidade que nem sombra de impermanência traz aos espelhos. Invento vozes e falo em línguas que não existem, e deito ao final de tudo como se não houvesse no mundo travesseiros. Descubro no gato manias de velhinho, espalho as bonecas pelo quarto, suspiro alto e bem pausadamente enquanto digo coisas que não saberei repetir. Alice descobriu dia desses que tardes inteiras de vento fazem felicidade incomparável a um verão, mas que a ela ainda faltam muitos instantes sem pausa para a completude. Enquanto lá, bem ao longe do meu quintal inexistente, alguém aprende a tocar piano, tímido e sem verbos, bem assim: