domingo, fevereiro 04, 2007

do diário de alice


Invento frases que não são minhas, escrever é um ato de amor. [Sim, deve ser possível reinventá-lo]. Adivinhar o cheiro da chuva, assistir ao nascimento de um primeiro relâmpago. Fui implicante com Anaïs, e hoje como castigo passei o dia apaixonada por ela, e por Henry, e por June, e tive vontade de inaugurar um diário. [escrever diários será um excessivo voltar-se em si?] O filme mais lindo que já vi na vida chama-se Beleza Roubada, e eu choro tanto com aquelas músicas. Houve um tempo em que eu gostava de sentar em frente ao rio e inventar ali o mar, sem nem precisar fechar os olhos. [Tenho um prazer secreto em observar pessoas tomando sorvete]. Descobri que da camélia nasce uma outra flor, linda e com jeito de inventada. [Procurar beleza no mundo nem sempre é tarefa fácil, mas algumas surgem sem precisar esforço]. Eu não falo muito de mim para os outros, mas quando escrevo só faço olhar pra mim mesma. [ainda assim é narcisismo? logo eu que tenho fobia de umbigo.] Domingos são silenciosos, e eu tenho gostado cada vez mais de estar em casa, sem tumultos música alta fumaça pessoas numa busca desesperada por afeto. Gostaria de dizer que fumei cigarros e bebi cerveja conversando sobre filosofia, mas a verdade é que alguém que diga uma bobagem tão grande que me faça rir me encanta mais do que qualquer brilhante citação. Tenho horror ao pedantismo, e aí me incluo particularmente. Mas eu falava que escrever é um ato de amor, e quanto ao amor não existirá no mundo alguém que cante mais lindo que Nina Simone. Diário de um dia só, e amanhã esqueço todas as promessas que hoje me fiz em silêncio. Mas o que imagino, à parte toda pretensa confissão, é que esta noite não haverá lua nem estrelas, e há muito que já não tenho mais medo dos temporais.