segunda-feira, janeiro 17, 2005

das variações e (des)variações em torno do teorema

E então que eu comprei uma caderneta para morar na minha bolsa e para que as palavras pudessem ter onde pousar.
E para que elas não se atropelassem na minha cabeça me fazendo cócegas e saindo pelos meus olhos.
E então eu comprei uma caderneta. E na capa dela está escrito caderneta.
Como se eu não soubesse.
Talvez pra não confundir.
Ou pra não esquecer, acho.
E eu,
vou fazer de conta que estou escrevendo nas costas de uma tartaruga.
E o que se segue,
é assim ó:


Variações em torno do teorema - I

Uma caderneta chamada caderneta aprende a ser tartaruga.
Uma tartaruga brinca de ser caderneta.
E elas ficam bem amigas.
A caneta só participa, ela não sabe ser outra coisa.
Aí eu a uso para prender o meu cabelo.
E ela vira um teorema.
E não tem mais vergonha nem inveja da tartaruga e da caderneta.
E todas sorriem bem felizes.

Moral da história:
Porque a gente dá para as coisas,
o nome que a gente quiser.



Variações em torno do teorema – II

A tartaruga distraída encontra no chão um teorema.
Intrigada, pergunta para a caderneta:
“Mas o que esse teorema faz caído aqui no chão?”
Ao que a caderneta responde:
“Ele acredita que é uma caneta.”
E a tartaruga diz:
“Mas então o que essa caneta faz aqui?”.

Moral da história:
Porque a gente acredita,
nas coisas que a gente quiser.
E daí elas existem.
Ou:
Essa tartaruga sabe mesmo das coisas.


Variações em torno do teorema – III

A caderneta descobriu que ter caderneta escrito na sua testa a tornava muito óbvia.
E andava com a melancolia que só as coisas muito muito óbvias têm.
Aí, veio a caneta e lhe disse: “eu vou solucionar seu teorema”.
E desenhou nela uma tartaruga.

Moral da história:
Só é óbvio quem quer.
Ou não tem ajuda.