domingo, janeiro 09, 2005

dos livros. e do amor

Remexendo coisas antigas.
Porque esse texto eu escrevi há mais de um ano, e agora reli e senti vontade de dizer exatamente essas mesmas coisas. E não teria palavras melhores, acho.
E eu gosto.
E isso.
E assim:


Os livros foram meu primeiro amor.
Amor esse que nasceu quando eu ainda era uma menina que tentava adivinhar as letras e desenhava rabiscos que acreditava formarem palavras na vontade louca de dar a elas um significado. "Mãe, eu escrevi goiaba aqui, não escrevi?" e ela dizia "escreveu sim, goiaba."
Soube despertar em mim o amor pelas palavras, essa minha mãe. Que pra me fazer dormir me contava histórias sobre a infância dela, quando eles não tinham banheiro nem luz elétrica e que de noite, ela lia várias vezes o único livro que tinham em casa e que gastava todas as velinhas da casa pra ficar lendo até de manhã. E me contava sobre o irmãozinho que nasceu tão pequeno que "colocavam ele numa caixinha pra ele ficar quentinho e sobreviver". E quando eu ficava intrigada sobre a não-existência do banheiro, ela me respondia serenamente que eles não sentiam falta, porque "não se sente falta do que nunca se teve." E eu achava minha mãe a mulher mais inteligente do mundo. E ela me deu livros. E me disse que quando eu aprendesse a ler ela me daria outros e depois que eu terminasse de ler me daria mais outros. E eu quase não dormia de tanta vontade de poder ler todos os livros que ela ia me dar, e que iam ser maravilhosos, eu sabia.
E foram.
E aqueles livros, ainda estão na estante ali da sala. Com cheiro de infância e de primeiro amor.
E as palavras, essas, tem uma força tão grande na minha vida que nem sei em que pessoa eu teria me transformado se minha mãe não tivesse passado todas aquelas noites lendo o mesmo livro. E se eu não tivesse passado tantas noites lendo tantos outros. E se não tivesse chorado as vezes que chorei, me espantado as vezes que me espantei, me emocionado as vezes que eu me emocionei.
Os livros,
me fizeram amar as pessoas. E aceditar nas pessoas. E acreditar em tudo que é possível. E no que não é também.
Me fizeram acreditar em mim. E no que eu poderia ser e fazer.
E, um dia,
me fizeram até ter vontade de escrever. Tímida, receosa, nunca me sentindo à altura.
E então,
descobri que existia algo que me fazia sentir tão livre quanto ler.

Ainda que seja "difícil como quebrar rochas".
Ainda que doa.
Ainda que nem sempre consiga.

Os livros,
esses,
libertaram minha alma. E todos os sonhos.
Me fizeram ser alguém que ama. Que sonha. Que morre de medo mas quase nunca desiste. Que um dia acreditou que podia até mesmo brincar de teatro. E de ser atriz. E que ainda acredita poder fazer qualquer coisa.

Até escrever.