domingo, julho 29, 2007

omaggio a armindo trevisan

Simplesmente porque estava ociosa naquela tarde e queria acariciar o mundo ela despertou de entre seus dois sóis, o real e o que irradiava de seus cabelos quando em festa, e com a caneta prendeu fogo às suas mãos geladas – as mãos dela eram as mãos mais geladas que jamais existiram no mundo - e escreveu uma carta longa longa, dessas em que ninguém consegue poupar as próprias vísceras da exposição ao sol, reinventando o amor pelo amigo que está longe olhando todos os dias o mar de Copacabana, e lhe mandou um postal do Chagall para enfeitar a geladeira dizendo "geladeiras gostam de cores e arco-íris", e sabia que ele entenderia exatamente o que era quê. E porque estava ociosa naquela tarde e queria acariciar o mundo saiu de bicicleta a andar em círculos ao redor das crianças que brincavam nos balanços, e porque ontem tinha ido a um show que a deixou arrebatada a sonhar em acordes de guitarra, feliz, ela decidiu então, sim, é isso, a partir de hoje tentar ser furiosamente feliz, sempre furiosamente feliz, e reafirmar os afetos todos os dias depois do café da manhã e, sim, a partir de amanhã começar finalmente a nadar entre os peixes imaginários. Tudo daria certo e seria bom e calmo e definitivo como os peixes azuis que nasciam de seu ventre, e tudo isso porque estava ociosa naquela tarde e tinha finalmente conseguido acariciar o mundo.
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