domingo, junho 10, 2007

chove em macondo

Chove sem parar desde ontem e os azulejos do banheiro escorrem água e tudo em casa se esparrama em umidade e eu não consigo deixar de pensar que todos os lugares do mundo podem ser Macondo, e são. A sensação de que nunca mais acabará essa água e que amanhã ao sair de casa todos os guarda-chuvas dançarão tangos e pessoas sairão escorrendo suas verdadeiras cores pelas ruas, e eu que sou violeta espalharei um rastro de lilases de um lado a outro da cidade encantada pelos trovões. Ali no armário dorme o vestido que ontem se preparara para ir a festa, eu que há muito não saio de casa pelas madrugadas preparava meus olhos para o escuro das luzes que piscam sim-não, mas os trovões me paralisaram por encantamento de sustos. Há tanto no mundo imenso a mim, e o vestido resignado se fecha atrás da porta, não verá tão cedo o azul escuro da noite, mas qualquer dia desses eu lhe mostrarei as estrelas. Não sei se a chuva, mas o amor quando visita meu quarto deixa silêncio e calmaria às marés. Tenho quatro livros na cabeceira para escrever um ensaio sobre o amor disfarçado de trabalho de literatura. [Gosto de olhar o céu a beleza o amor a partir do chão, assim tudo fica mais próximo de tocar.] Vi um filme esses dias que tinha por personagens um anão, uma mulher, um rapaz e os trilhos de um trem, e poucas coisas me tocaram tanto nos últimos tempos quanto esse filme sobre existências pálidas e tristezas silenciadas. Sábado aquele homem falava sobre a existência como uma busca desenfreada por uma baleia branca. Nunca alguém havia me definido tanto. E eu que nem contei pra ele que sim, eu já vi a baleia branca. Mas a busca por enquanto queda suspensa pela chuva.