quarta-feira, julho 20, 2005

seria sobre doris, não fosse sobre mim

Mas não dá, eu não consigo, eu não consigo eu não consigo.
Eu me perco eu me desconcentro eu não tenho tanta certeza assim e aí eu sonho sonho e me perco horas a fio desejando tudo e eu não me concentro no que está aqui, bem na minha frente tomando dimensões de futuro, ainda que próximo, não desses futuros que são pra sempre, só um futurinho assim, só pra daqui a pouco. Entende, sweet? Era o que dizia aquela menina verde que eu conheci lá por 2000 e alguma coisa, numa época em que eu andava por aí de sapatos azuis confundindo todas as palavras. E ela dizia assim, a menina verde, dizia entende, sweet? mas aquilo soava tão bonitinho e todo mundo respondia sim, eu entendo, mas ninguém na verdade entendia nada. É fácil fingir-se de inteligente e bom entendedor e eu nesse quesito sou excelente, eu engano muito bem de esperta, mas na verdade eu sou bobinha bobinha. Como todos os que.
E tinha outra menina também, uma que só falava japonês e a gente conversava pelo dicionário e ela um dia abriu uma pasta com as pinturas, e puta-que-pariu as coisas que a menina pintava eram de rasgar o coração, eram lindas lindas apoteóticas e eu tinha vontade de chorar de abraçar de dizer mas a gente não sabia de TUDO isso mas me senti envergonhada de não ter enxergado TUDO aquilo de tão imenso que habitava aquela menina de quem nunca ouvi uma palavra que eu pudesse entender. E teve um dia que eu precisava que ela reagisse de qualquer maneira reagisse e estávamos na beira de uma praia lá bem longe e eu cantei uma canção de ninar em japonês, veja bem, eu realmente sei cantar UMA canção de ninar em japonês e eu disse: Yayoi e cantei e ela deu um grunhido um sorriso algo estranho mas eu cantei a musiquinha e ela ficou feliz e fim.
E tá, no meio de tudo isso - eu ando tonta mesmo - o que eu queria realmente realmente contar é que encontrei a Doris Lessing na esquina mais esquecida da minha estante. E o nome do livro é assim simplesmente Roteiro para um passeio ao inferno. E o que eu digo, ah isso sim eu digo, é que sempre tem algo que vale a pena. E ela vale a pena. E ele vale a pena. E tantos eles e elas que valem a pena.
E queria dizer também -
a verdade espantada -
que quem tem medo, na verdade, sou eu.
Mas isso sempre foi evidente,
não?