segunda-feira, abril 09, 2007

teresa, que esperava as uvas

das coisas na vida que fazem esparramar a ternura pela terra, pelas raízes nossas em direção ao chão de um mesmo mundo. disse dia desses que se trata puramente de reinvenção das coisas do meu mundo, do nosso mundo, meu e de tudo aquilo que amo. cá dentro em mim chove todas as segundas-feiras e isso é bom. e acordo com passos sonolentos e saio para a rua antes de ver o sol alto através da janela do ônibus, a rotina nada mais é do que redescobrir bonitezas onde ontem mesmo não estava tanto e onde amanhã talvez não faça o mesmo sentido, mas ainda assim dilatar as pupilas à espera de um mar sem redemoinhos, porque lindeza mesmo é ver o gato afofando o paninho antes de dormir, numa ronronice repetida todos os dias às dez da noite e da qual ele nunca se cansa. com ele eu aprendo sobre o afeto do qual nada se espera, e além de toda rabugice. renasce o amor de onde sempre esteve, brota o amor a partir dos meus pés, e que se dane meu mau-humor, apesar de tudo é só ele que sabe de todos os azuis que se espalham de mim. e feliz me conto como se fosse outono, e um dia olho em torno e descubro que já é. cá eu de volta, sempre e sempre em mim, e poucas coisas agora têm tanta importância quanto aquelas que eu escolhi para serem definitivas cá nesse mundo de estranhezas, delírios e uvas fora de estação.


sábado chovia e eu comprei uma bolsa e espalhei suas bolinhas brancas pelas calçadas até fazer arco-íris no outro dia. Pode não fazer sentido, mas quem já tentou criar arco-íris alguma vez na vida sabe exatamente como é.