terça-feira, maio 01, 2007

maio



cem anos de solidão não estavam nos meus planos, mas chegou vendaval varrendo tudo que existia por perto. chorei durante dois dias depois da chuva de minúsculas flores amarelas, a verdade é que as palavras exercem em mim um domínio messiânico. nessa vida cotidiana e ao avesso nada mais está onde estava antes, e é difícil se acostumar a nova ordem, eu que tanto tempo acreditei na divisão do meu mundo entre o amor e o desencanto, agora tento me acostumar com o caleidoscópio que são meus afetos, e passo muitos dias sendo feliz, apesar de algumas manhãs em que acordo numa cólera capaz de paralisar o mundo, e seria, se eu na verdade não fosse tão insignificante diante de tudo que há em volta. melhor assim, que mesmo na insignificância de quem não tem poder algum sobre os delimites do mundo faz nascer ao menos duas estrelas por ano no céu, eu sei que sim, e sei exatamente os momentos, quando a vertigem toma conta e é tamanha a boniteza que nada mais resta a não ser explodir em cinco milhões de partículas prateadas. tenho descoberto importantes coisas sobre mim, entre um intervalo longo de silêncio e outro: ao menos duas horas do meu dia passo delirando dentro de um ônibus, e não há solidão mais esclarecedora do que o silêncio. importantes coisas que não modificariam a existência de pessoa alguma a quem se as revelasse, e que por isso mesmo restam dançando no carnaval infinito dos meus delírios, mas que me acalmam a respiração e me salvam um pouco das blasfêmias e da correria inconsciente em busca de algo que nunca cheguei a saber o que era. dizendo assim parece simplesmente calmaria, e não é tão calmo assim, não é. mas algo mudou, e talvez seja tão simplesmente porque é chegado o tempo dos plátanos.