segunda-feira, outubro 08, 2007

de um único rosa lhe verte um rio




Mais dada aos deslimites dos encantos
que às certezas em linha reta
e às concretudes brancas daquelas ruas
pálidas
ela anda

- nas mãos fechadas dois punhados de adjetivos que espalhados trazem efeito de areia aos olhos -

[e quem espera todas as manhãs pelo porvir de uma flor que teima em não surgir aos olhos, aprende desde já que não há no mundo
cor
donde possa desenhar-se-lhe o cheiro ainda inexistente]
.
Mais escorrida em um derramar constante
de amor em estado líquido
que contornada por pontilhados
simétricos
de um lápis curioso qualquer
ela segue
.
- os pés como num susto de quem adivinha terra vermelha entre os dedos -
.
[e não há de se querer adivinhar dela
o amor
pois que ele é como vento
que desde criança sopra e faz funcionar
o moinho do coração
O amor prescinde de qualquer mundo
que não o seu.
O vento que mora em seu coração ela nunca precisou inventar.]
.
O que dela nasce
curvilíneo, líquido e escorregadio
é pequeno silencioso só eleva a voz
para os seus
e cabe no todo do papel rosa
por onde ela caminha tateia corre deita a cabeça
para ouvir os sussurros
a partir do chão
.
- por ali, dizem, há espaço suficiente para quem se arrisque a habitar-lhe as mãos -
.
.
(a flor e a foto são singelas mas contêm em si um princípio pálido de delírio.)
.
.
.
Como quem pingasse açúcar em meio ao peito de uma formiga que carrega sonhos dezenas de vezes maiores do que ela.
ela vive.
assim.