segunda-feira, março 28, 2005

There is a light that never goes out

Eu ganhei o dia de folga hoje.
E eu já ouvi essa música mais de 15 vezes seguidas.
E amo tanto, tanto tanto TANTO The Smiths, que quase não caibo em mim de tanto gostar.


Vontade de sair dançaaaaaaaaaannnnnnnnnnnndooooooooooooooooo até amanhã de manhã.



domingo, março 20, 2005

Foi assim:

Teve um dia,
eu vi
Alice pulou a poça
atravessou a rua
sorriu para o guarda
assoprou o vento
acalmou o sol
modelou as nuvens
e ao final da rua disse assim:
"Acabei."
E voltou pra casa.


Teve outro dia,
me contaram
Alice pegou papel e caneta
Desenhou um camelo
Colocou vestido novo
Olhou pela janela e disse assim:
"posso voar agora?"


E teve ontem,
eu estava junto
Alice abriu a janela
era noite e tinha estrelas
Alice pulou
Caiu e voou
Caiu e voou
Caiu e voou
Até que aprendesse a não cair nunca mais.


Ao final de tudo,
Alice piscou os olhos muito muito sem parar
E quando parou com os olhos bem abertos
Era assim:
Vagalumes dançando no ar
e na escuridão
do quarto.


Alice morreu.
Pollyana também.
Morreu a Violet,
morreu Rosa, morreram todas.
Morreu o romantismo,
o deslumbramento,
o acreditar no mundo, nas pessoas, nos passarinhos e que uma menina sentada de frente para o mar era a prova definitiva da existência de deus.








segunda-feira, março 14, 2005

angústia

[Do lat. angustia.]
S. f.
1. Estreiteza, limite de espaço ou de tempo.
2. Ansiedade ou aflição intensa; ânsia, agonia.
3. P. ext. Sofrimento, tribulação: A triste revelação acarretou o agravamento de suas angústias.
4. Hist. Filos. Segundo Kierkegaard v. kierkegaardiano, determinação que revela a condição espiritual do homem, caso se manifeste psicologicamente de maneira ambígua e o desperte para a possibilidade de ser livre.
5. Hist. Filos. Segundo Heidegger v. heideggeriano, disposição afetiva pela qual se revela ao homem o nada absoluto sobre o qual se configura a existência (q. v.).
[Cf. angustia, do v. angustiar.]


Para mim,
é a sensação de voltar à infância, e a todos os medos e incertezas dela.
É também a sensação de estar à beira de um penhasco.
De poder voar.
Ou desistir de.

É também uma vontade permanente de gritar.

domingo, março 13, 2005

pausa

Eu ganhei um caderno lindo que parece saído de um museu renascentista pra escrever as minhas coisas e eu não tenho mais vontade de escrever aqui desde que os arquivos caíram, as palavras fugiram e a inspiração acabou.
Mas não,
eu não estou nada triste.
Só fechei um ciclo na sexta-feira.
E até começar um novo,
encontro-me assim
em suspensão.



terça-feira, março 08, 2005

Porque os arquivos foram parar lá no porão?


segunda-feira, março 07, 2005

ladainha

deus,

Eu odeio esse calor.
Eu odeio esse calor.
Eu odeio esse calor.
Eu odeio esse calor.
Eu odeio esse calor.
Eu odeio esse calor.
Eu odeio esse calor.

Repete ad infinitum.
Ou até chover.


Porto Alegre, 39º

E o dia de hoje é a confirmação da minha suspeita de que essa cidade foi escolhida para ser a filial do inferno no verão.





sexta-feira, março 04, 2005

epifanias

I
Era manhã de domingo e fazia muito frio e eu tinha uma touquinha de tricô protegendo meus cabelos porque a sensação era de que nevaria a qualquer momento.
E tinha show no parque às nove da manhã.
E era a Elza Soares quem esperávamos.
E então, muitas pessoas começaram a me olhar e me apontar e eu fiquei muito vermelha.
Descobri, então, que uma borboleta tinha pousado na minha cabeça.
E saiu no exato momento em que a descobriram.

II
Era dezembro, faltava um dia para terminar (recomeçar) o ano.
Eu tinha decidido acampar e chovia tanto. Eu olhava pr'aquele mato que não acabava nunca mais e saí caminhando e fechei os olhos e era um entardecer e os pássaros compuseram uma sinfonia inteira pra mim.
Aí eu chorei.
E sorri.
Sorri e chorei o ano inteiro que veio depois.

III
Amanhecia depois de uma noite cantando e bebendo e caminhando pelo acampamento do primeiro Fórum Social Mundial.
Eu esperava o ônibus pra voltar pra casa e dormir.
Eu sentei no meio-fio e de longe vinha uma música linda. Lindíssima. Eu fui caminhando em direção àquela música, eu e meu amigo. A música vinha de um carro muito muito velho, e tinha um senhor sentado ouvindo no toca-fitas. Nós nos aproximamos do carro e meu amigo disse:
"Que música bonita. Queríamos saber de quem é".
O homem respondeu: "sou eu", emocionadíssimo.
Eu não sei se aquilo era verdade.
E, na verdade, pouco me importa.
Porque nunca vi os olhos de uma pessoa brilharem tanto.





terça-feira, março 01, 2005

era uma vez

Teve uma vez, eu escrevia contos.

[Eu tentava escrever contos.
E quase quase conseguia.]

E um dia estava na faculdade, num intervalo interminável entre uma aula e outra, e escrevi uma história, sobre uma menina de tranças, sua bolsa, suas tardes e um chafariz.
E a história terminava assim: num pôr-de-sol na cataluña, a cidade em festa e todos sorrindo muito em volta do chafariz - aquele que ela considerava só seu e de mais ninguém. Ela caminhava bem lentamente em direção a ele - que jorrava águas coloridas e estava lindo como nunca - e a menina então bebia toda a água do chafariz e explodia no ar.

[Uma vez me contaram das águas de um chafariz que dançam ao som de música clássica.
Eu nunca esqueci.)

E agora eu estava lembrando daquela tarde, e do caderno, e de mim, e da felicidade que se me tomou inteira quando a explodi em milhões de pedaços coloridos no ar, e do quanto achei tão simples explodir no ar. De felicidade. De esperança. De tristeza. De amor.
Simples como morrer de susto.
E me deu saudade.
Dela.
De mim.
D'ela, que na verdade,
sempre fui eu.
Da menina de tranças que eu (me) inventei.
E que fiz inventar uma infância - e uma vida inteira - para si.
Para ela.
Para mim.





mar adentro


Mar adentro, mar adentro,
y en la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños,
se juntan dos voluntades
para cumplir un deseo.

Un beso enciende la vida
con un relámpago y un trueno,
y en una metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo;
es como penetrar al centro del universo:

El abrazo más pueril,
y el más puro de los besos,
hasta vernos reducidos
en un único deseo:

Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo, sin palabras:
más adentro, más adentro,
hasta el más allá del todopor la sangre y por los huesos.

Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos.
O melhor filme do ano.