sexta-feira, dezembro 23, 2005

Não ando boa para títulos


Nem bem começou - oficialmente - o verão, e hoje vi um canteiro de margaridas murchas, desmaiadas de sol e calor. Fim de primavera, princípio do desencanto das flores. Ao menos eu sinto que algo bem novo se anuncia dentro de mim. E eu tento acreditar que não é mais um engano dentre tantos que vivi esse ano que acaba. Não, tento acreditar que agora, dessa vez, nada mais consegue me trair os olhos a alegria o coração. Dessa vez, dessa vez sim. Que se faça a chuva, pois.

domingo, dezembro 18, 2005


She had diamonds on the inside.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

meus votos de natal


Eu nunca gostei de Natal. Nunca. Mas ainda assim, desejo que todos sobrevivam.
Agora uma historinha antes de dormir:

Fotografia

O que ela queria muito mesmo na vida era entender como se fazia pra tirar foto de passarinho. Ela nunca conseguia. Tentava, passava tardes inteiras, colocava água docinha, tentava ficar invisível, quase não respirava, máquina a postos, e nada.
Aí alguém falou que pra tirar foto de passarinho, existia uma técnica: Primeiro ela precisava espremer uma nuvem pra pegar água de chuva virgem, não chovida.
Ela foi e espremeu.
Aí o alguém falou que ela tinha que pegar a água da chuva recém tirada da teta da nuvem, e pingar um pouquinho em cada pétala de um ramo inteiro de flor.
Ela foi e pingou.
Aí o alguém disse que ela tinha que colocar o ramo de flor na janela e esperar que o passarinho viesse beber.
Ela foi e esperou.
Aí o alguém disse que não tinha mais conselho, agora era por conta dela.
Ela foi e envergonhou.
Aí o passarinho veio, bebeu a água da flor, dançou, cantou, fez poses e poses e ATÉ ficou parado no ar!
Mas ela lembrou que tinha esquecido de levar a máquina.
E a história acabou.

balanço

Tenho 24 anos e uma gastrite.
24 anos e 5 fios de cabelos brancos.
24 anos e 1 cicatriz no rosto.
24 anos e 3 grandes mentiras na vida.
(das que eu saiba.)
Tenho 24 anos
2 carnavais lindos
1 carnaval dramático
outro melancólico.
Tenho 24 anos
e poucos banhos de cachoeira.
24 anos
e muitos passarinhos
passeios de formigas
músicas de gatinho.
Tenho 24 anos
algumas músicas cantaroladas
algumas páginas desenhadas
alguns dois ou três sonhos realizados
outros tantos por inventar.
Tenho 24 anos
um gato
um caderno verde
muitas tentativas de amor.
Eu tenho 24 anos
e acho que já tenho bastante coisa nessa vida.

p.s.:

eu não tenho gastrite.
falei só pra imitar o ferreira gullar.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Madredeus

E como eles estarão aqui terça-feira, e como os ingressos custam somente 200 reais, escrevi um texto para uma promoção da Zero Hora, que depois tive de mutilar para ter os caracteres admissíveis. E como eu já desisti de ganhar concurso, promoção, loteria ou bingo, coloco o texto, o que eu escrevi antes da mutilação, aqui:


Sinto Madredeus como fosse um som trazido pelo vento, a fechar os olhos num respiro de cair da tarde; sinto Madredeus como se sente a proximidade do mar, numa melodia sutil a se dizer presente, mesmo quando não; sinto Madredeus como uma saudade inventada do Alentejo que nunca conheci, de dores que nunca senti, de belezas que não vivi; sinto Madredeus como um acalento ao coração, um delírio de beleza, um instante de epifania, um sorriso suspenso no ar.


P.S.: Pois que, por óbvio, eu NÃO ganhei. Mas sou OBRIGADA a colocar aqui as frases vencedoras. Deus é justo, é bom, e eu ficarei em casa na terça-feira à noite. Não colocarei nomes, pra depois ninguém vir me incomodar pelo google. Leiam com muita atenção, não tecerei nenhum comentário, visto que tenho um pouco de dignidade.
Aliás, a pergunta era: "O que você sente quando ouve a música celestial de Madredeus?"


Frase: Quando somos tomados inesperadamente pelos acordes de Madredeus, é como se a nossa alma entrasse em êxtase... a respiração acelera, o corpo se acalma e um súbito duelo de paz e euforia se apodera da nossa mente, conjugado com uma sensação de que a vida parou e nada mais no mundo nós (sic) é importante.

Frase: Uma sensação inusitada, gerada por um som celestial que parece ser impossível de ser encontrado aqui na terra. Um bem estar que parece não ser real, é de dar arrepios!

Frase: A música de Madredeus não se escuta, se sente. E quando sinto a música de Madredeus minha alma-diapasão escuta os céus. Vejo suas belas notas formarem um doce véu. E neste, me enrolo, me aconchego, me aqueço e me perco. No mundo. E de mim.

Frase: Sonhar sonhos, ouvir anjos, vagar por nuvens, assim me sinto fada, com os fados de Madredeus.




Ave-maria. Mas eu não falo mais nada.





P.S.2: Tá bom, eu falo, visto que meu cotovelo dói mais que meu orgulho. O PIOR de tudo é pensar que consegui escrever algo pior do que ISSOS. Santo deus, santo deus, misericórdia. Preciso ficar rica, já!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!



eu vi


Talentosa, iluminada, boa de palco, e, como não bastasse, ainda é linda de morrer.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

das cores do subúrbio

Da janela do quarto em frente à arvore que gosta de dançar ventinho em frente ao beija-flor que tem cor de vaquinha em frente à rua de asfalto quente em frente ao sol do meio-dia em frente ao movimento dos ônibus que passam lentamente antes de rumar em direção ao centro em frente à divisória de fio de luz que de longe parece passarinho em frente à solidão da mulher na janela do quarto andar em frente a sua samambaia predileta em frente a sua parede de retratos amarelados em frente a seus sonhos de um lago de abril habita o amor nos olhos do menino que se esconde atrás da porta olhando sua mãe sorrir melancólica sorrir tímida sorrir irremediável mas ainda assim sempre sorrir às duas horas em ponto todas as tardes.


(Sim, era verdade sobre o falecimento do monitor.)