segunda-feira, janeiro 31, 2005

De apagar as luzes, deitar na cama, abrir e fechar os olhos até inventar e enxergar as estrelas que não existem no teto.
Até que uma delas cai.
E tudo vira uma chuvinha bem fininha e prateada.



sexta-feira, janeiro 28, 2005

hoje

Bem bem, Gisa.




quinta-feira, janeiro 27, 2005

uma breve história

Depois de milhares de tentativas frustradas de voltar a ser ela mesma no orkut, Alice começa a rir histericamente achando tudo isso muito engraçado.
O perigo mora mesmo é nas metáforas.




terça-feira, janeiro 25, 2005

Pra ler de cima pra baixo. Termina nos passarinhos.



A tarde - uma (quase) trilogia
(sim, isso existe.)


De uma tarde I

Dia de sol
O rio
O menino de olhos tristes senta-se ao meu lado
Ele quer ver o mar
Mas hoje, eu digo, hoje não tem mar.
E amanhã?, ele pergunta.
Amanhã, se você quiser, ele vem sim.
E me senti muito mal por ter mentido sobre o mar.
Mas aí ele sorriu.
E eu me perdoei.



(quase) trilogia da tarde - II

De uma tarde II

E hoje eu caminhei debaixo de um sol muito muito quente pelo centro vendo passar pessoas tão diferentes de tantos lugares diferentes de tantas línguas diferentes e ontem quando eu vi um velhinho falar italiano me deu saudade saudade tanta saudade que eu saí pulando com o coração espantado.
E comprei bloquinho de papel reciclado pra escrever cartinhas e tentativas de poesia e pra guardar na minha gaveta de coisas preciosas. Junto com cadernos, canetas, postais e caixa de cd colorida sorridente.


E foi assim que.



(quase) trilogia da tarde - III

De uma tarde III

Aqui tem
o sol
O rio
O balançar levinho do barco

Logo ali tem
a cidade que fica pra trás
O apito que se perde no ar
O comandante fechando a portinhola

Aqui, logo aqui tem
o papel a sorrir
A caneta a rabiscar
As mãos a escrevinhar

E uma tarde a perder de vista.



e ainda

Azul a não mais caber em si de tanta cor
Uma rede balançando um menino
Árvores submersas com os braços para fora da água
Galpões descascados de paisagem para a pescadora
E uma única gaivota a namorar a água.


tá quase


A Björk canta o gato pára na porta querendo sair e me olha e eu vou abrir. E ele antes de sair me olha com cara de recomendação “cuide-se agora que eu não vou mais estar”.
E eu digo sim.



e enfim

E quando ela lembra do sonho, da água, de atravessar o rio e chegar enfim chegar encharcada os cabelos escorrendo os olhos úmidos quando Alice lembra o coração aumenta diminui e ela sente vontade de sorrir chorar sair correndo caminhar sobre sob dentro da água. Bem assim.
E quando ela sente os olhos assim úmidos a água a inundar-lhe as lembranças as palavras a se desenharem e dançarem sem que ela comande sem que ela sofra sem que ela doa sem que ela se esforce quando acontece assim bem assim é como se tudo enfim fizesse um sentido que nunca antes havia feito. Porque tudo segue a uma lógica, sim, sim sim tudo segue a uma lógica e Alice está caminhando ela está caminhando ela só não correu ainda porque ela olha para todos os lados olhos deslumbrados assustados olhos de quem vê pela primeira vez a vida os sonhos o futuro o amor e ela vai vislumbrar mais do que o branco, esse branco enorme amedrontador anêmico esse branco vai colorir vai colorir sim. Porque tudo que está por vir, está por vir. Simples como que.


passarinhos

Hoje eu vi uma divisória de fio de luz que de longe parecia passarinho.
E agora eu entendo, eu consigo entender que é por isso que é só por isso que é por tudo isso que hoje eu estou fechada nesse quarto e porque passei a tarde e agora a noite e talvez a madrugada inteira derramando as palavras e porque me fugiram todas as vírgulas e todas as concordâncias e todo o critério formal mas elas voltaram, as palavras me voltaram inteiras enormes suculentas e quase que não acreditava mais que as tinhas e eu me senti por tanto tempo seca delas. Por elas. Com elas.
E nisso, não reside o menor drama.



sábado, janeiro 22, 2005

dos quereres - conclusão

Eu ia escrever uma conclusão fazendo joguinho de palavras com querer, ser querido e tal.
Mas - horror que seria - não vale a pena, juro.
Então deixa pra lá.






(E toca Yellow por aqui repetidas e repetidas e repetidas vezes. Até as estrelas pedirem silêncio lá do céu, eu não páro, ah não.)

dos quereres - II

E também queria meu livro de correspondências da Clarice que anda passeando por aí.
E queria o último cd do Coldplay que eu até hoje não tive dinheiros pra comprar.
E aquele importado da Nina Simone que eu vi na Saraiva e custa somente 100 reais.
E aquele quadro da Betty Blue que eu deixei reservado e não voltei pra buscar.
E queria ter uma casa minha, com uma parede bem vermelha cheia de postais do Hopper e um sofá fofo bem fofo na sala e meu computador e meus livros e meus cds.
E que da janela do quarto eu tivesse de vista o nascer e o pôr-do-sol, as estrelas e a lua.
Será pedir muito, ômeudeus?


dos quereres - I

Queria aprender a colocar imagens aqui.
Mas é tudo TÃO complexo nesse mundo.



quarta-feira, janeiro 19, 2005

Palavra de ordem para as próximas semanas:

(des)enlouquecer.


Se eu escrevesse como o Caio Fernando Abreu, agora agorinha nesse momento em que a tarde "vai-se indo" e fica mais bonita e tudo fica assim, meio dourado, eu escreveria um texto visceral, lindo, engraçado, profundo e inesquecível.
Mas eu não sou.
Então vou ali procurar nele as palavras que não tenho.
E tentar trabalhar nesse computador.
Ai, que difícil.
Tá, pronto.
Fui.

segunda-feira, janeiro 17, 2005

mas hoje tinha veeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeento.
E eu abri os braços e me senti TÃO feliz que estou rindo até agora.



VENTO!!!!!!!!!


das variações e (des)variações em torno do teorema

E então que eu comprei uma caderneta para morar na minha bolsa e para que as palavras pudessem ter onde pousar.
E para que elas não se atropelassem na minha cabeça me fazendo cócegas e saindo pelos meus olhos.
E então eu comprei uma caderneta. E na capa dela está escrito caderneta.
Como se eu não soubesse.
Talvez pra não confundir.
Ou pra não esquecer, acho.
E eu,
vou fazer de conta que estou escrevendo nas costas de uma tartaruga.
E o que se segue,
é assim ó:


Variações em torno do teorema - I

Uma caderneta chamada caderneta aprende a ser tartaruga.
Uma tartaruga brinca de ser caderneta.
E elas ficam bem amigas.
A caneta só participa, ela não sabe ser outra coisa.
Aí eu a uso para prender o meu cabelo.
E ela vira um teorema.
E não tem mais vergonha nem inveja da tartaruga e da caderneta.
E todas sorriem bem felizes.

Moral da história:
Porque a gente dá para as coisas,
o nome que a gente quiser.



Variações em torno do teorema – II

A tartaruga distraída encontra no chão um teorema.
Intrigada, pergunta para a caderneta:
“Mas o que esse teorema faz caído aqui no chão?”
Ao que a caderneta responde:
“Ele acredita que é uma caneta.”
E a tartaruga diz:
“Mas então o que essa caneta faz aqui?”.

Moral da história:
Porque a gente acredita,
nas coisas que a gente quiser.
E daí elas existem.
Ou:
Essa tartaruga sabe mesmo das coisas.


Variações em torno do teorema – III

A caderneta descobriu que ter caderneta escrito na sua testa a tornava muito óbvia.
E andava com a melancolia que só as coisas muito muito óbvias têm.
Aí, veio a caneta e lhe disse: “eu vou solucionar seu teorema”.
E desenhou nela uma tartaruga.

Moral da história:
Só é óbvio quem quer.
Ou não tem ajuda.




sonhando sonhos.

Sonhei que andava a cavalo por horas, dias inteiros, passeando por morros verdíssimos e amanhecia e anoitecia numa sucessão de fotografias de nascer e pôr-de-sol que era lindo tão lindo.
Depois, sonhei que uma amiga estava grávida de um peixinho.
Freud explica?



quarta-feira, janeiro 12, 2005

A tarde começa.
E eu visto-me de sol e saio, olhos arregalados, coração disparado, os pensamentos rodopiando.
E o que será o que será o que será que vai acontecer agora agora agora?





domingo, janeiro 09, 2005

dos livros. e do amor

Remexendo coisas antigas.
Porque esse texto eu escrevi há mais de um ano, e agora reli e senti vontade de dizer exatamente essas mesmas coisas. E não teria palavras melhores, acho.
E eu gosto.
E isso.
E assim:


Os livros foram meu primeiro amor.
Amor esse que nasceu quando eu ainda era uma menina que tentava adivinhar as letras e desenhava rabiscos que acreditava formarem palavras na vontade louca de dar a elas um significado. "Mãe, eu escrevi goiaba aqui, não escrevi?" e ela dizia "escreveu sim, goiaba."
Soube despertar em mim o amor pelas palavras, essa minha mãe. Que pra me fazer dormir me contava histórias sobre a infância dela, quando eles não tinham banheiro nem luz elétrica e que de noite, ela lia várias vezes o único livro que tinham em casa e que gastava todas as velinhas da casa pra ficar lendo até de manhã. E me contava sobre o irmãozinho que nasceu tão pequeno que "colocavam ele numa caixinha pra ele ficar quentinho e sobreviver". E quando eu ficava intrigada sobre a não-existência do banheiro, ela me respondia serenamente que eles não sentiam falta, porque "não se sente falta do que nunca se teve." E eu achava minha mãe a mulher mais inteligente do mundo. E ela me deu livros. E me disse que quando eu aprendesse a ler ela me daria outros e depois que eu terminasse de ler me daria mais outros. E eu quase não dormia de tanta vontade de poder ler todos os livros que ela ia me dar, e que iam ser maravilhosos, eu sabia.
E foram.
E aqueles livros, ainda estão na estante ali da sala. Com cheiro de infância e de primeiro amor.
E as palavras, essas, tem uma força tão grande na minha vida que nem sei em que pessoa eu teria me transformado se minha mãe não tivesse passado todas aquelas noites lendo o mesmo livro. E se eu não tivesse passado tantas noites lendo tantos outros. E se não tivesse chorado as vezes que chorei, me espantado as vezes que me espantei, me emocionado as vezes que eu me emocionei.
Os livros,
me fizeram amar as pessoas. E aceditar nas pessoas. E acreditar em tudo que é possível. E no que não é também.
Me fizeram acreditar em mim. E no que eu poderia ser e fazer.
E, um dia,
me fizeram até ter vontade de escrever. Tímida, receosa, nunca me sentindo à altura.
E então,
descobri que existia algo que me fazia sentir tão livre quanto ler.

Ainda que seja "difícil como quebrar rochas".
Ainda que doa.
Ainda que nem sempre consiga.

Os livros,
esses,
libertaram minha alma. E todos os sonhos.
Me fizeram ser alguém que ama. Que sonha. Que morre de medo mas quase nunca desiste. Que um dia acreditou que podia até mesmo brincar de teatro. E de ser atriz. E que ainda acredita poder fazer qualquer coisa.

Até escrever.


sábado, janeiro 08, 2005

era uma vez...

... a música mais linda do mundo cantada pela dona da voz mais linda do mundo.
E tinha uma menina que descobriu a dona da voz mais linda do mundo e chorou dias e noites inteiras de tanto amor.
Até que um dia, nessas noites insones embaladas pela dona da voz, ela descobriu A música.
Que depois da descoberta, passou a ser dela e de mais ninguém. Ela e a música tinham esperado a vida inteira por isso.
E a música, que ela ouve sempre que está muito triste, ou muito feliz, ou muito-qualquer-que-seja-a-coisa, ou precisando fazer a alma transbordar inteira, diz assim:

For All We Know
F. Coots/S.M. Lewis

For all we know
We may never meet again
Before we go
Make this moment live again
We won't say goodbye
Until the last minute
I'll hold out my hand
And my heart will be in it
For all we know
This might only be a dream
We come and we go
Like the ripples, like the ripples in the stream
So baby, love me, love me tonight
Tomorrow was made for some
Oh, but tomorrow
But tomorrow may never, never come
For all we know
Yes, tomorrow may never, never come
For all we know


(E é óbvio que eu não vou me atrever a traduzir.
Algumas coisas não precisam de tradução. Nem explicação.
Algumas coisas não precisam de nada mais além de existir.)

sobre ontem à tarde

E então que eu estava no trabalho, olhando pra árvore de plátano linda, enorme e dançarina que tem no pátio do centro municipal de cultura. Que faz um tapete lindo de folhas e no outono é a coisa mais poética que há. E que consegue tornar bonita a vista que tem logo adiante um tesourinha feio e decadente.
E aí que eu escrevi isso:

Das luzes novas dos primeiros dias do ano que cá está

Dias lindos, céu azul, noites estreladas. Gargalhadas, sorrisos inteiros, espantos, encantamentos, novas músicas e vontade de (saber) fazer poesia.
Uma confiança na vida e uma ausência de não acreditar que há tempos não lembrava sentir.
Um transbordamento de carinho e bem querer.
Vontade de sair dançando por dias inteiros, até mudar a lua.
Vontade de tomar banho de cachoeira.
Vontade de comprar cds novos e reler todos os meus livros.
Vontade de ser a pessoa mais feliz e encantada que já existiu.

E não fosse esse calor insuportável que torna os movimentos todos tão lentos e pastosos e o ar tão pesado que dá vontade de reinventar o vento, eu diria que o ano começou assim, quase perfeito.
Lindo.
E inspirado.



segunda-feira, janeiro 03, 2005

das descobertas do novo ano

Cobras viram estrelinha lá na outra ponta do mar.
Estrelas viram mocinhas dançando em baile de carnaval.
Mar vira espelho pra lua se enfeitar.
Sol vira cabelo despenteado em dia de chuva.
O lagarto, eu não sei bem o que o lagarto vira.
Mas que ele vira, vira.
Conchinha do mar vira esconderijo de areia fujona.
Siri vira conchinha que o vento leva.
E o vento vira areia que o siri não pôde esconder porque ainda não tinha virado conchinha antes do mar virar espelho, as estrelas virarem mocinhas, e as cobras virarem estrelinha lá na outra ponta do mar.