segunda-feira, novembro 27, 2006

Espremida de garças vai a tarde.
O dia está celeste de garrinchas.
A cor de uma esperança me garrincha.
Engastado em meu verbo está meu ninho.
O ninho está febril de epifanias.
(com a minha fala eu desnaturo os pássaros?)
Um tordo atrasa o amanhecer em mim.
Quero haver a umidez de uma fala de rã.
Quero enxergar as coisas sem feitio.
Minha voz inaugura os sussurros.

(Manoel de Barros, o meu velhinho-amor)

terça-feira, novembro 21, 2006

pra constar

Detesto adolescentes e todas as suas variações.

sexta-feira, novembro 17, 2006

ora bolas

Serei eu realmente a única pessoa nesse mundo a não gostar de Los Hermanos?

quarta-feira, novembro 15, 2006

todo dia ela faz tudo sempre igual

Livros há muito desejados comprados na Feira do Livro ainda dormem na minha cama, silenciosos e tão lindos: meu ritual de amor. Katherine Mansfield, Virginia Woolf, Antonio Cicero, Rubem Alves, José Saramago, mas Henry Miller é a maior paixão agora. Anaïs Nin acaba de virar implicância, eu numa antipatia absurda e inesperada: burguesa e terrivelmente narcisista, é bom desconstruir alguns mitos. Trabalho novo com janelas grandes olhando para o rio. Feliz e pacata e ainda há certa delicadeza nos dias de sol. Amanhã começo aula, eu e os insuportáveis adolescentes que espero não me tirem o bom humor. (Engraçado fazer cursinho agora, mas a verdade é que sou uma teimosa) Meus cadernos canetas e postais ainda esperam o dia em que eu consiga voltar a escrever algo minimamente luminoso, e há de chegar. Ando prática, concentrada e pouco delirante, mas me faz um tanto grande de falta. Ontem coloquei vestido vermelho e fui ver o Almodóvar. Penélope Cruz é de fato uma grande atriz. Um dia tiro uma foto do céu visto aqui do meu quarto todos os dias ao entardecer. É deveras bonito. É difícil sorrir em silêncio, mas eu aprendi.

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segunda-feira, novembro 06, 2006

sobre ontem à noite

De repente a gente volta a ser criança e dança em cima da cama. Pés descalços, revigorantes risos bobos — vivos como nunca.
De repente a gente anula o peso dos anos que não sentimos e das máscaras que nunca usamos. Fazemos uma prece, uma reverência, em nome de dias como esse, e pedimos que nunca terminem, mesmo depois da chuva.

Que tenhamos sempre dias assim!
Amoceis!


Também te amo, Wagner.

direis


Tanto dizem ser o céu
o que há de mais próximo
a ser tocado
Dizem tanto ser a luz
a que mais suave
sabe escorrer em água
Dizem muito ser o sol
o que mais sábio
pressente o breu
Ora, direis, dizem?
Tanto dizem
do tanto que há
que eu assim acredito toda
ser capaz a lua
de me clarear qualquer noite
de chuva
E ela faz.


(Há algo hoje em mim que tanto se recusa a dormir, e eu respeito.)