domingo, junho 26, 2005

cat power

Derramando-me inteira de amor por essa moça .
André,
nem sei como te agradecer.


sexta-feira, junho 24, 2005

das verdades inventadas


Sonhei com uma cena de filme em preto e branco em que a protagonista gritava, do alto de um viaduto:
Meu presente pra você serão as pétalas do meu corpo em flor espalhadas pelo ar.
E se jogava.

(E a trilha sonora do vôo era Cat Power,
Names)

Sonhei que o meu menino tocava violoncelo, e o céu ia mudando de cor a cada desenho que o arco fazia.

Sonhei que caminhava por um campo imenso, e fazia vento de levinho. E a vontade de sorrir era como um instante de fotografia.

Sonhei que alguém me dizia que os momentos de felicidade absoluta são antecedidos de um arrepio incontrolável de frio. E que nem todos conseguem suportar "um momento antes de sentir felicidade".

Sonhei que desenhávamos um poema para o músico que tocava para ninguém ouvir. Mas ele não encontrava e a gente saía correndo românticos emocionados achando que sim.

Sonhei que o dia tinha amanhecido bonito,
e que a vida parecia possível e não havia gritos pelas ruas e meus olhos estavam em paz.
E que assim foi o dia todo que se seguiu à descoberta de uma estrela perdida no quarto em que eu deitava para sonhar.

Verter rios de lágrimas assistindo às brasileiras ganharem das cubanas na semifinal do mundial de vôlei de praia.
Eu sou RIDÍCULA.


terça-feira, junho 21, 2005

Bachelorette - II

Drink me, make me feel real
Wet your beak in the stream
Game we're playing is life
Love is a two way dream
(Björk)

Porque eu acredito nela.

Bachelorette

Porque é tão grande o medo de ser uma pessoa mais ou menos,
que se me torna ainda maior o medo de escrever, de criar, de mostrar, de voar.
E o medo de me criar a imagem, o retrato de algo que eu gostaria de ser,
mas que não sou.
Porque eu quero abismos
quero infinitos de estrelas
quero sinfonias de palavras
quero músicas de fazer ecos em qualquer vazio de alma
quero poemas de silenciar a chuva
quero gargalhadas de estremecer as paredes
quero gritos de escancarar portas e janelas
quero linhas curvas
quero círculos
quero espirais
quero epifanias soltas no meio da tarde
quero beija-flor entrando no meu quarto depois de meses a fio me observando
sentado na folha da árvore
e eu que quero tanto tudo demais o tempo todo
me perco me atrapalho me confundo inteira no meio de tanto querer.
Porque se é revelador perder-se
acontece de nem sempre conseguir me encontrar
depois de tanta vertigem.



porque eu gosto de quem canta, chora, ri e ama até sufocar.

domingo, junho 19, 2005

Preciso,
desesperadamente,
de uma polaroid.

quinta-feira, junho 16, 2005

André, me aguarde!
Eu estou com uma idéia tão empolgante, que se der certo a gente vai ser feliz por um ano inteiro.


quarta-feira, junho 15, 2005

Sintomas de caxumba.
Era tudo que eu precisava nesse momento da vida.

terça-feira, junho 14, 2005

Parada do "orgulho"

Sei que passou da época, mas azar, eu quero falar disso e pronto:
Eu acho isso de Parada do Orgulho GLBT uma grande bobagem.
Eu não entendo e não concordo e ninguém vai me convencer de que alguém deva se orgulhar de ser gay, assim como não acho que alguém deva ser orgulhar de ser hétero, de ser bi, de ser tri, de ser pan; de ser branco, negro, amarelo ou pintar o cabelo de verde. Saca?
Eu já fui a umas duas ou três paradas gueis. E eu já me diverti horrores, dancei e pulei atrás do carrinho com amigos, acenei pras pessoas do lado de fora e já dei muita risada em show de drag.
Mas tá, deu, eu não acho que dançar com as bibas, desfilar com a namorada e chegar no final do percurso achando que algo de importante aconteceu seja algo realista. Porque não é. Não acontece. NÃO ACONTECE, esse é o problema.
Acontece uma celebração, a cada ano mais decadente e partidarista, de algo que não tem repercussão - social e politicamente. Não se propaga, não se perpetua, não tem consequências no dia seguinte pra quem saiu de casa, pediu pra ser visto e respeitado e que amanhã vai voltar a ser chamado de veado e sapatão na rua. Igualzinho a todos os outros dias. Antes ou depois de qualquer parada.
Eu acho que as paradas livres viraram uma caricatura de algo que poderia ser muito do caralho, mas NÃO É. Virou data institucionalizada de sair do armário e desfilar alegoria, tal e qual carnaval. Idêntico.
Eu não sou socióloga, não tenho pretensões políticas e não faço parte de ONG. Sim, eu não faço nada pra mudar o mundo e sei que não tenho nada que ficar reclamando de quem faz, mas eu sou chata e eu reclamo sim. Porque eu acho que reeducar uma sociedade pra entender e aceitar a tal diversidade começa em fazer entender que todo mundo é igual, sem alegoria. Que nem todo homem gay sonha em ser mulher, conta piada e sabe andar de salto alto. E que nem toda lésbica coça o saco, dirige caminhão e bebe cerveja no boteco. Que são pessoas como qualquer outra, e não saem de casa só em dia de Parada Livre. Que não têm (ou não deveriam ter) que se orgulhar de serem gays, nem levantar bandeira pra serem respeitados. Porque ser gay, na minha doce ilusão, deveria ser igual a ser vegetariano ou ter olho claro ou escuro, características que diferenciam uma pessoa da outra e só, sem viagem, sem neurose, sem gente besta achando bizarro. E que todo mundo deveria ter, no mínimo, a possibilidade de viver tranqüilo, feliz, sem precisar se esconder em guetos pra existir. Sem carnaval. Sem fantasia. Vida real, que é onde a gente vive, onde qualquer pessoa deveria ser respeitada, simples assim. Seja ela homem ou mulher, gay ou hétero. Ou seja ela o Marilyn Manson.


segunda-feira, junho 13, 2005

madrugada de hoje

André querido fazendo-me companhia na insônia e lendo poemas e começos de contos da Katherine Mansfield no telefone pra mim.
Pena, nessas horas, é sentir sono cedo demais.
(Eu queria lembrar aquele poema que falava do rio ser um cavalo líquido. Ou algo assim.
Lindo lindo.)
Ordem da semana:
Ler o Carpinejar.



domingo, junho 12, 2005

TP

  • Passar poemas por debaixo de portas.
  • Ligar para repartições públicas, fazer ameaças de bomba e telefonar para os funcionários: "Saia daí e vá agora para um parque, cinema, meio da rua, qualquer lugar que você queria ir, mas saia agora!"
  • Esquecer postais com frases bonitas na poltrona do cinema.
  • Mandar cartas inesperadas.
  • Cantar em voz alta no ônibus.
  • Pular de felicidade na rua mais movimentada do centro.
  • Pegar uma pessoa no colo.
  • Virar estrelinha na parada do ônibus.
  • Andar fantasiada de loira pelo shopping.
  • Decretar feriado no trabalho toda a segunda-feira para ir ao cinema.
  • Entrar em casa de amigo, fazer pintura abstrata na parede.
  • Ter ataques intermináveis de riso. Até que todo mundo ao redor esteja gargalhando também. Contagioso como bocejar.
  • Levar um rádio e escutar uma sinfonia inteira esperando o sol se pôr na beira do rio.
  • Aplaudir o sol quando se põe.
  • Chorar em qualquer lugar, a qualquer hora, sempre que der vontade.

Terrorismo poético

Eu ia colocar link, mas achei tão genial que vou publicar inteiro.
Porque eu posso não ter gostado do filme, mas a idéia me faz dançar a alma.
Terrorismo poético
[Capítulo de "Caos, os Panfletos do Anarquismo Ontológico" (parte um de "Z. A. T."),
de Hakim Bey]


ESTRANHAS DANÇAS NOS SAGUÕES de Bancos 24 Horas. Shows pirotécnicos não autorizados. Arte terrestre, trabalhos- telúricos como bizarros artefatos alienígenas espalhados em Parques Nacionais. Arrombe casas mas, ao invés de roubar, deixe objetos Poético-Terroristas. Rapte alguém e faça-o feliz. Escolha alguém aleatoriamente e convença-o de que ele é herdeiro de uma enorme, fantástica e inútil fortuna: digamos 8000 quilômetros quadrados da Antártida, ou um velho elefante de circo, ou um orfanato em Bombaí, ou uma coleção de manuscritos alquímicos. Mais tarde, ele irá dar-se conta de que acreditou por alguns poucos momentos em algo extraordinário, & talvez, como resultado, seja levado a buscar uma forma mais intensa de viver.
Pregue placas comemorativas de latão em locais (públicos ou privados) onde experimentaste uma revelação ou tiveste uma experiência sexual particularmente especial, etc.
Ande nu por aí.
Organize uma greve em sua escola ou local de trabalho, com a justificativa de que não estão sendo satisfeitas suas necessidades de indolência & beleza espiritual.
A Arte do grafitti emprestou alguma graça à metrôs horrendos & rígidos monumentos públicos. A arte Poético-Terrorista também pode ser criada para locais públicos: poemas rabiscados em banheiros de tribunais, pequenos fetiches abandonados em parques e restaurantes, arte xerocada distribuída sob limpadores de pára-brisa de carros estacionados, Slogans em Letras Grandes grudados em muros de playgrounds, cartas anônimas enviadas a destinatários aleatórios ou escolhidos (fraude postal), transmissões piratas de rádio, cimento fresco...
A reação da audiência ou o choque estético produzidopelo Terrorismo Poético deve ser pelo menos tão forte quanto a emoção do terror: nojo poderoso, excitação sexual, admiração supersticiosa, inspiração intuitiva repentina, angústia dadaísta - não importa se o Terrorismo Poético é direcionado a uma ou a várias pessoas, não importa se é "assinado" ou anônimo; se ele não muda a vida de alguém (além da do artista), ele falhou.
O Terrorismo Poético é um ato em um Teatro de Crueldade que não tem palco, nem assentos, ingressos ou paredes. Para funcionar, o TP deve ser categoricamente divorciado de todas as estruturas convencionais de consumo de arte (galerias, publicações, mídia). Mesmo as táticas guerrilheiras Situacionistas de teatro de rua já estão muito bem conhecidas e esperadas, atualmente.
Uma requintada sedução levada adiante não apenas pela satisfação mútua, mas também como um ato consciente por uma vida deliberademente mais bela: este pode ser o Terrorismo Poético definitivo. O Terrorista Poético comporta-se como um aproveitador barato cuja meta não é dinheiro, mas MUDANÇA.
Não faça TP para outros artistas, faça-o para pessoas que não perceberão (pelo menos por alguns momentos) que o que acabaste de fazer é arte. Evite categorias artísticas reconhecidas, evite a política, não fique por perto para discutir, não seja sentimental; seja impiedoso, corra riscos, vandalize apenas o que precisa ser desfigurado, faça algo que as crianças lembrarão pelo resto da vida - mas só seja espontâneo quando a Musa do TP tenha te possuído.
Fantasia-te. Deixa um nome falso. Seja lendário. O melhor TP é contra a lei, mas não seja pego. Arte como crime; crime como arte.
...
...
...
...
(Eu queria ter escrito isso. Mas COMO EU QUERIA.)

sábado, junho 11, 2005

Uma criança burra.
Jamais me encontrei melhor definição.


quarta-feira, junho 08, 2005

eu quero um pato de estimação.

Nunca pensei que pato tivesse natureza-íntima tão diversa de pinto. Pinto está sempre com medo, e, além de lindo, é burríssimo, tão burro quanto a futura galinha ou galo que um dia será. Mas pato é altamente sociável, procura companhia, anda atrás da gente feito cachorro, se deixa acarinhar - e, coincidência altamente curiosa, tem o andar típico de pato. Como a gente na vida tem sido tão enganada com promessas-vãs, a gente fica boba ao ver que não estão ludibriando a gente quando diziam que pato anda como pato. Pois anda.
(de uma carta de Clarice Lispector à Elisa Lispector e Tania Kaufmann.
23 abril 1957.)


sábado, junho 04, 2005

insônia

Eu não tenho conserto.
Voltei pro orkut.

SolUço.

quinta-feira, junho 02, 2005

rascunhos


I - Eu tenho uma amiga que subiu aos céus e foi morar numa comunidade lá num sítio cheio de gente que medita o dia inteiro.
E o engraçado é que nada mais na vida me surpreende.

II - Tenho me sentido pequena, vazia, desinteressante, sem novidades, sem inspiração. A fertilidade que fazia brotar palavras que se espalhavam por tudo - teclado, cadernos, guardanapos, folhas coloridas e cartas - desapareceu no ar e deu lugar a um terreno árido, difícil, límbico (descobri essa palavra, preciso usar, ora.)

III- Mas teve também a noite passada, céu lindo de morrer.

IV- E eu acordei com o sol batendo no rosto. E isso me fez acordar cedo e feliz.

V- Meu gato está com pulgas e isso me angustia horrores.
(Eu sinto angústia nas pernas, nas unhas e nos cabelos, mas isso ninguém nunca entendeu.)

VI- Ontem eu vi um vídeo de vídeo-dança (assim, cacofônico) e me deu vontade de ser multimidiática e fazer coisas malucas com corpos, imagens, músicas, projeções e sombras.

VII - Tomarei sopa no almoço.

VIII - Vi o filme Edukators na segunda-feira e achei a coisa-mais-chata-e-pedante-que-há. Mas sou a única.

IX - Eu tenho lido a Nathalie Quintane, que o André me emprestou há mil anos e só agora eu dei a devida atenção. A mulher é uma francesa doida que escreve coisas maluquíssimas tipo isso:

Exceto um cirurgião operando a si mesmo, como H. a caminho do pólo norte abriu ele mesmo a sua barriga, segurando as pinças de vez em quando na boca enquanto se localiza, é dado a poucos cortar e levar à altura dos olhos um de seus próprios pedaços.


X - Preciso fazer muito esforço pra lembrar os números romanos. O dia que eu tiver paciência, vou ver se consigo chegar ao número 100.
(É nisso que resulta a pessoa ser ocupada demais.)