terça-feira, março 28, 2006

fragmento de uma carta ao vento


(...) Sonhei com Ulisses a noite inteira e acordei saudosa. Saudade dos meus amigos que estão longe e do que eu sou quando estou com eles. Ana está voltando e isso me faz feliz. Semana de folga, me preparando para o recomeço, ontem passei a tarde com Eliza e ela me jogou tarô e me contou dos mitos e as cartas eram tão boas e se me habita desde já uma sensação inigualável de porvir. Ontem eu tomei sol no parque e café no lago, terminei meu rascunho de livrinho infantil e dei para o André criar os desenhos e fui no sarau do Carpinejar. Meus dentes estão branquinhos e nunca mais fumarei cigarros. Hoje faltei à aula dos cabeções para começar a semana me sentindo menos burra e dormi até as 9 da manhã ouvindo barulho de chuva. Criei vergonha na cara e decidi voltar a atuar. Tem uma goiabeira na frente da janela do meu quarto e as goiabas são tão lindas que as pessoas param para tirar fotos. Eu não como goiaba. Hoje de manhã vieram 3 beija-flores tomar água ao mesmo tempo. Eu não bebo água. Escutei os dois cds novos da Marisa Monte e eu tenho a dizer é que ela conseguiu, ela sempre consegue, mas não tenho dinheiros para comprá-los. Tenho dois sonhos, uma concretude, Eros e Psiquê se apaixonando nas cartas da minha vida de daqui a pouco e acho que isso é bom.

segunda-feira, março 20, 2006

um susto, um tombo e um sorriso



Cada separação é uma morte lenta, dolorosa, desesperançada. É a morte dos planos, dos sonhos inventados, dos sorrisos e da ternura dividida; é a morte dos poemas, das músicas, das fotos no mural; é a morte de todos os lugares que se viu e de todos os lugares que ainda se queria ver; é a morte de uma nova família construída. Cada separação leva consigo um pouco das melhores coisas que há em você (o amor é ansioso por mostrar tudo, ainda que timidamente.). Cada separação é um instante de saber-se novamente sozinho, e uma tontura a primeira vez que se sai na rua, dividindo com o mundo uma solidão que nem você lembrava existir tão impetuosa.Cada separação é um passo no limbo do irremediável, do acinzentado da alma, na falta temporária de fé. Cada separação é um abismo de onde você precisa desesperadamente aprender a levantar. Cada separação é um aviso violento de que a vida segue o rumo que melhor lhe couber, e que suas tentativas de deus nem sempre darão certo, pois você é pequeno, é humano, é um inteiro coração e nunca vai conseguir se livrar dessa estranha mania de sentir amor.

quinta-feira, março 16, 2006

menina nina

Nina,
você vai ter de entender,
tem gente
que é deste jeito:
não gosta de despedidas.
Não chore, Nina`,
não chore.

Ou melhor: chore bastante.
A gente afoga nas lágrimas
a dor que não entendemos.

Menina Nina, duas razões para não chorar
(Ziraldo)

terça-feira, março 14, 2006

do primeiro amor,


Meu primeiro amor surgiu numa madrugada sonolenta, em que eu nada esperava nem nada antecipava e enquanto assistia da escada às pessoas dançarem loucas e embriagadas. Meu primeiro amor me enxergou, me sorriu, me pegou pela mão e me fez acreditar realmente bonita pela primeira vez na vida. Meu primeiro amor me trouxe febres, saudades violentas, me fez amar as estradas verdes e curvas, me fez sentir pela primeira vez as convulsões do ciúme. Meu primeiro amor me ensinou a fazer planos para décadas, a desafiar o mundo, a procurar desenhos nas calçadas. Meu primeiro amor me mostrou a dimensão do meu próprio grito. Meu primeiro amor me ensinou a me destruir e reconstruir, repetidas e infinitas vezes. Meu primeiro amor me ensinou a quase morrer de desespero, a não idealizar o encanto, a não acreditar em tudo o que se diz na hora da vertigem. Meu primeiro amor me ensinou, sobretudo, a desistir do amor para não ceder à loucura. Meu primeiro amor foi lindo e trágico e um dia deixou de doer, e me ensinou, ao fim, que sempre restará um infinito de amar para acreditar sempre em tudo de novo mais uma vez.

sexta-feira, março 10, 2006

de uma semana sem fim

Graças ao bom deus hoje é a tão esperada sexta-feira da semana mais longa da minha vida. Estou cansada, precisando dormir uns dois dias inteiros, mas o estômago não mais me dói, vislumbro boas perspectivas e volto, assim, novamente a me reconhecer. Fui aceita pelo professor para ser aluna penetra de uma cadeira do mestrado e vou fazer uma disciplina de nome grande chamada assim: Bases teórico-metodológicas dialéticas para o desenvolvimento de uma tese ou dissertação, e agora preciso treinar minha cara de compenetrada para usar nas aulas. Bobagens à parte, estou feliz feliz e mestrado é o sonho maior da parte cabeção do meu ser. Quero cinema no final de semana, preciso ver Crash que André me disse que é uma porcaria mas eu quero ver mesmo assim, quero ver o documentário do Vinicius que já nem sei mais se está em cartaz, quero tomar cerveja e dançar na pulp, quero andar de bicicleta, quero fazer planos, quero ir pro Canadá. Mas isso dá pra esperar um pouco mais. Quero colo e carinho e um filhote de gatinho.

quarta-feira, março 08, 2006

hoje


Cinco silêncios em meio a cinco pausas em meio a cinco respiros em meio a cinco vertigens de céu em meio a cinco instantes de navios ancorando no ar. Agora só é preciso um pouco de silêncio e sussurros, quase assim como um mar que inundasse de leve seus olhos e te embalasse sorrindo a dormir, sabe?

segunda-feira, março 06, 2006

resumo da ópera

Buenos Aires é escandalosamente linda, especialmente à noite, mas os portenhos fazem juz a toda a (má) fama que têm: de tão mal educados, chegam a ser caricatos. O show do U2 foi ótimo, e teria sido ainda mais se eu tivesse conseguido enxergar alguma coisa (tá, minto, eu vi o Bono umas 5 vezes, depois não sentia mais as pernas e era impossível pular na ponta dos pés). De qualquer maneira, foi inesquecível, por vários e distintos motivos, especialmente porque foi a primeira vez (e espero a última) que fui levantada por segurancas em meio à multidão exatos dois segundos antes que eu morresse esmagada, levando pela mão Aninha, a fiel escudeira, enquanto gritávamos: "ela é minha amiga, ela é minha amiga", um escândalo necessário sem o qual não teríamos nos encontrado nunca mais na vida e que teve como consequência um pé de tênis perdido e um show inteiro pulando de meia. Em Buenos Aires as pessoas fumam até dentro do Mac Donald's, eu vi uma mulher segurando um menino por uma espécie de coleira, os garcons fazem cara de nojo para servir e ninguém faz a menor questão de entender suas tentativas de falar espanhol. Em Buenos Aires você faz cara de desbunde em cada esquina que dobra, e encontra um canteiro inteiro de rosas em meio a um parque. Em Buenos Aires você encontra lugares abertos e ônibus 24 horas por dia, o que para mim que venho de uma província é mais que novidade. Em Buenos Aires as pessoas falam "boludo"em meio a todas as frases, os ônibus têm um sistema arcaico de moedinhas e a arquitetura é aaaaaaaaaaaaaaalgo. Em Buenos Aires você entra no metrô e encontra um cartaz anunciando uma exposicão do Chagall. Em Buenos Aires os homens são todos muito parecidos, as mulheres são magérrimas e você pega o táxi mais barato do mundo. Em Buenos Aires você pensa que se deus é argentino, deve sorrir de orgulho ao ver o cair da tarde na 9 de julho, mas se esconder de vergonha a cada vez que um portenho faz alguma das suas típicas grosserias. Em Buenos Aires você pensa que a cidade é tãããããão linda, pena são as pessoas.
Agora, Montevidéo...


sexta-feira, março 03, 2006

Chove loucamente em Buenos Aires e eu teria várias coisas a falar dessa cidade, do show e das pessoas que cá habitam. Mas depois vao dizer que eu só arrumo defeito em tudo, entao prefiro nao me pronunciar a respeito.
Espero pela salvacao da minha alma em Montevidéo.