quarta-feira, janeiro 31, 2007

(...)

delírios borboletas sorrisos de sol. amigos gargalhadas epifanias ao cair da noite. clarice retratos uma caixinha cheia de cartas. sonhos músicas instantes de sublimação. terra vermelha cheiro de café lembrança das longas tranças da avó que a protegia das mariposas. água cristalina lavar os cabelos fechar os olhos quando tem vento. céu limpo sentimentos brancos e uma única estrela no céu. e dizer que ela nunca achou graça em brincar de bolhas de sabão.

top five - músicas para um cotidiano

Clube da esquina 2, Lô Borges, para acordar;
Forever Lost, The Magic Numbers, para ouvir no ônibus indo pro trabalho;
Red Light, The Strokes, para atravessar o centro;
Suedehead, Morrissey, para entardecer;
Love me or leave me, Nina Simone, pra olhar as luzes da sacada.

Pois que a vida não precisa de muitos detalhes pra ficar completa. Basta escolher bem as músicas, e ainda mais os silêncios.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

suceder II


Caminha por duas quadras reaprendendo a respirar. Segura o coração entre as mãos para acalmá-lo. Nem sempre dá certo, mas ela tenta. Chega em casa, abre a janela, se perde em meio ao azul tão escuro da noite que ainda não chegou inteira, mas vai. Tem festa de aniversário na sala e ela fica lá por cinco minutos, sorrindo. As duas crianças e o pai delas vão embora, e ela resta novamente (quase) inteiramente só. Procura entre os livros algo que lhe explique o inominável, mas não encontra. Procura entre as músicas aquela que possa promover a catarse, mas naquele momento catarse é palavra que não existe, e nem cabe. Olha ao redor e assiste em rodopios a cenas e frases que passam rápidas e derradeiras como um vendaval súbito. Troca pela milésima vez as fotos do mural. Senta na cama, pensa em dormir, mas não há sono. Prende os cabelos e caminha pela casa de pés descalços, mas não há terra embaixo, só o quarto do vizinho que não entenderia sua necessidade pueril de caminhar na grama úmida. Procura fotos e postais antigos. Assiste a si mesma sorrindo deslumbrada de fraldas e sapatinho. Procura em si aquela sombra de cólera ou alegria inundante que sempre chega em momentos de suspensão como esse, mas não há, só uma sensação calma e ininterrupta como nascente de rio. Pergunta então qual é a decisão, e descobre que não há decisão, tudo já está decidido desde o início dos tempos, e que não há objeções a fazer ao inexorável que permeia todas as coisas. Vai novamente até a janela e descobre que a noite já canta seus grilos e mostra suas estrelas. De hoje em diante, pensa, não brigarei nunca mais com meus abraços.


suceder


tanta coisa na vida pra botar em dia que não sei nem por onde começar. vi babel esses dias e fiquei com torcicolo de tão tensa. talvez praia no findi. sábado teve chuvisco e eu com desejo de cogumelo recheado. noite de sábado passada entre estranhamentos e alguns afetos. noite de sexta (re)passada dançando até amanhecer num inesperado carnaval fora de época mui engraçado. conhecer pessoas novas e queridas salva a gente do verão. comi desesperadamente uvas no final de semana e hoje passei o dia assim, meio roxa. ando apaixonada por minhas colegas de trabalho. coloquei uma foto do barth na minha mesa, lindo e narigudo meu nenê. recebi um cartão bonito de um tradutor agradecendo minha atenção (!) e pensei "algumas pessoas ainda são dadas a essas gentilezas", e isso fez valer a semana inteira de trabalho, além de uma constatação boa de que nem todo mundo é daquele jeito torto ao qual eu não me acostumarei jamais. aulas começam em março e eu empolgada que nem criança já comprei até caderno. (impressionante como alguns acontecimentos na vida são muito mais entusiasmantes na segunda vez do que na primeira). maria pé de feijão branco andou sendo lida pelos meus amigos muito amados e ela anda faceira faceira pelo apreciamento de seus verbos e pelas cores que vai ganhar da carola. alguns dias por aqui têm sido bonitos e pálidos de sol. meu coração anda devagar, em compasso de espera e indecisão. eu não sei direito o que está e o que será, mas eu espero surgirem, assim como as rimas que surgem do sol. eu não faço poesia, mas às vezes finjo que sim. e quinta comerei sushi de vestido branco.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Passei!

terça-feira, janeiro 16, 2007

no dia à espera do cometa


Sim, é meio brega começar a contar alguma coisa dizendo: "quando ela nasceu", mas acontece que isso data de quando ela nasceu mesmo, e quanto a esse fato não há o que se possa fazer. Parece aquelas duas tardes de infância em que eu decidida a escrever uma autobiografia chorava desesperada por não ter o que contar, o que me levou a desistir do empreendimento literário tão rapidamente quanto começou. É de fato muito difícil escrever uma autobiografia aos oito anos. Mas enfim, tudo isso pra dizer que não é impunemente que alguém lê um livro chamado em busca do tempo perdido, e sim, em mim também as coisas reverberam mais ou menos como combinado. Ao menos na maior parte das vezes. Mas a história era assim:

Quando ela nasceu o médico disse que tinha algo no seu coração que batia diferente e descompassado, tomado de rompantes de vendaval. Assim foi que durante a longa interminável infância ela se divertia em idas periódicas de tardes ao médico para espalhar adesivos pelo peito ainda inabitado de borboletas e para assistir aos desenhos das batidas que seu coração fazia. Ela gostava do ritual. E o vento que passava por ali, segundo ele, seria pra sempre sempre inofensivo se continuasse de sutilezas assim, mas que nunca bateria igual ao coração da maioria das outras pessoas, pois que ele era único e dela: gostava deveras de tomar ventinho. O que pra muitos parecia pequeno e sem importância pra ela era derradeiro e definitivo, pois que o coração que era só dela batia assim: sem lógica nem compasso, tomado de ventania.
Ela desde muito cedo aprendeu que a coisas mais especiais do mundo são as que nascem dali. Aprendeu a ouvir dele os gritos e as delicadezas; o espanto e o deslumbramento; o silêncio e a folia. Aprendeu a brincar de claro-escuro, fazendo-o diminuir apertado quase sem respirar para depois explodir em confetes. Aprendeu que nas músicas mais lindas do mundo residem todas as possibilidades de beleza e de transbordamento que ali existem, do bater rápido e miudinho pra depois congelar por segundos de tanta apoteose. Ela que passou muito da vida desejando encontrar o momento em que, mesmo por instantes fugidios, o coração que era só seu batesse calmo, sossegado, marinhado. Mas pouco, muito pouco acontecia, pois que o coração que era só dela batia quase o tempo todo assim: sem lógica nem compasso, e tomado de ventania. Ela, que passara tanto tempo sentindo tanta alegria de tanto, tanta angústia de tanto, tanto tudo de tanto, um dia descobriu que existia algo no mundo chamado amor, e que ele chegava na vida das pessoas assim: no começo aos pulos, derrubando copos e batendo portas e escancarando janelas, pra depois quedar tranqüilo como árvore de outono. Ao menos parecia ser assim no coração das outras pessoas do mundo, mas não no dela, pois que o dela não batia igual ao da maioria das pessoas do mundo, o coração que era só dela batia assim: sem lógica nem compasso e tomado de ventania, e não foi diferente com o amor. O amor aprendeu logo que não era preciso ser criança para brincar como tal com ela, e fazê-la suar em romantismos de febre, e dar-lhe sustos suicidas, delírios de idealização das coisas todas do mundo, e impulsos de acreditar-se voando. O amor fazia dela alguém sem par no mundo, e alguém igual a todas as outras do mundo. E foi assim. E o coração que era só dela, que batia sem lógica nem compasso, aprendia logo que não se brinca de amor, que não se brinca de afeto, que não se brinca de sentir medo, posto que era grande, posto que era muito, posto que era tanto. Mas o coração que era só dela esquecia logo em seguida tudo, e ela seguia revivendo aquelas mesmas tardes de infância, em que assistia deslumbrada aos desenhos das batidas descompassadas de seu coração, mas dessa vez com o peito cada vez mais inundado de borboletas, todas ali, todas guardadas, todas dela, como era só dela o coração que batia diferente do de todas as pessoas do mundo.


sábado, janeiro 13, 2007

revelação II

e a manhã assim numa sucessão de bocejos e um ventinho de maresia que vem lá de longe de algum amanhecer na praia bastante saudoso de meus olhos que entra pela janela e faz festa ao redor de mim.
alice que não amava as vírgulas.
alice que adivinhava olhos brilhando no escuro.
alice que caminhava entre uvas
morangos
sorrisos
e vestidos de areia.

revelação

existe um livro chamado "em busca do tempo perdido" e nada, nada do que eu tenha lido na vida até hoje se compara a.

sábado, janeiro 06, 2007

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

É possível sentir felicidade aos pulos sem MOTIVO????????
Sim sim, berenice!

segunda-feira, janeiro 01, 2007

desamanheceres


As coisas do mundo são mais bonitas quando amanhece. E não se trata de ignorar toda a boniteza que há num pôr-do-sol, rasgando o céu em amarelo e se derramando em laranjas e rosas - eu mesma tive um amor com vista para o pôr-do-sol. Mas uma manhã clara, que vai desvelando aos poucos as cores das coisas, que quando chega em azul é como se escancarasse uma cortina e revelasse às pessoas o proscênio do mundo, para logo surgir em sol, é algo delicadamente apoteótico. Pois que é possível delicadeza e apoteose. Eu quase chego a ser feliz de manhã. Sonolenta, distraída e delirante, mas quase feliz. De manhã eu gosto de longos banhos de chuveiro, de rio, de mar. De manhã eu ainda não cheguei a sentir tristeza de solidão, melancolia, susto, decepção ou medo de escuro. [a solidão é doença que me aparece notívaga.] De manhã a vida parece menos irremediável. As manhãs me fazem enxergar cristalino, quando ainda não há tempo suficiente para lembrar aos olhos dos rancores, num progressivo escurecimento do coração até chegar a hora de dormir, e sonhar, e esquecer-se em si para relembrar. Há de se aprender a amar o sol, apesar de todo o verão, e isso não significa felicidade enlatada, mas só um pouco de aprender a amanhecer os olhos do mundo em um pouco de paz. E sim, às vezes é tudo ao avesso, e às vezes eu minto. Mas cada vez menos para mim mesma.